quarta-feira, 19 de novembro de 2014

Utilização Real da engenharia do conhecimento

É possível  identificar, atualmente, a aplicação não apenas intuitiva, mas consciente, de técnicas e procedimentos de gestão de conhecimento em organizações, processos e produtos. Alguns  exemplos são:  sistemas de computador para trabalho em grupo, gestão de competências, recuperação de textos e documentos, gestão empresarial integrada e consideração de ativos intangíveis nas áreas financeira e de recursos humanos. Notícias sobre ferramentas específicas e boas práticas para a aplicação de gestão de conhecimento estão sendo divulgadas, mesmo que ainda não exista suficiente consenso sobre padrões ou casos de sucesso.

2. Quanto do trabalho é conhecimento

"Mapas de conhecimento colaboram para representar e administrar estruturas informais"

A motivação para a aplicação de gestão de conhecimento em ambientes dedicados, com o apoio de mapas de conhecimento, decorreu de necessidades identificadas durante o desenvolvimento de projetos tecnológicos nas áreas de informática e de saúde, no período de 1991 a 1993. Foi possível perceber, em ambos os casos, que o item "conhecimento" (conteúdo e características) conferia aos trabalhos uma dinâmica de difícil administração.

Na área de informática, tratava-se de estabelecer o valor de aquisição de direitos sobre redes de revenda e manutenção de microcomputadores construídas e mantidas de forma similar a redes de revendas de automóveis, de postos de gasolina ou de produtos eletro-eletrônicos. O valor dessas redes caracteriza-se apenas por contratos e manuais de operação mantidos pelas partes. Como se observa hoje com as empresas da Internet, existe grande interesse na avaliação e compra de direitos sobre redes e mercados.

Na área de saúde, foi possível acompanhar o desenvolvimento de projetos de sistemas que implementaram funções para marcação por telefone de consultas médicas em centros e postos de saúde pública e integração de processos administrativos em hospitais. Pelas suas características, a área de saúde pode ser classificada como área intensiva em conhecimento. Para que a operação seja possível, redes de empresas e profissionais devem colaborar entre si. O intercâmbio de conhecimento é intenso e projetos de pesquisa e desenvolvimento são freqüentes.

A partir de fevereiro de 1996, com a autorização de empresa prestadora de serviços de instalações elétricas industriais, foi possível aplicar algumas das idéias apresentadas por Stewart [1991, 1993] (mapas de conhecimento,  lições aprendidas, trabalho em grupo) em contratos para a instalação de sistemas de proteção externa contra descargas atmosféricas. Instalações de pára-raios em instalações industriais têm características complexas e desafiantes. Devem ser realizadas em condições de clima favoráveis, exigem a utilização de equipamentos de segurança individual e devem atender normas de segurança das instalações. A concepção, o projeto e a instalação devem ser executados de maneira compatível com as características de operação e manutenção das empresas.

O primeiro serviço de instalação foi conduzido durante cerca de 9 meses em 40 prédios de áreas administrativas e de produção de empresa petroquímica, com processos e produtos que apresentam riscos de explosão e envenenamento. Não foram registrados acidentes envolvendo a equipe de instalação do sistema de pára-raios. O serviço foi concluído com sucesso e um atraso nos prazos existente antes da aplicação de conceitos de gestão de conhecimento foi parcialmente recuperado.

O cliente contratou, simultaneamente ao primeiro serviço, dois outros serviços adicionais: (1) instalação de sistema de iluminação ininterrupta na sala de controle e operação do processo petroquímico e (2) instalação de infra-estrutura de circuitos para o sistema de rádio dos operadores da mesma sala.

Após a conclusão do serviço de instalação de pára-raios nessa empresa, uma segunda empresa foi atendida para a instalação de sistema equivalente (fabricante de produtos para a área siderúrgica com riscos de explosão). A experiência adquirida foi aplicada, com a devida proteção de interesses, também em outras áreas, clientes e empresas prestadoras de serviços.



Figura 1 - Conceito de dimensões de conhecimento aplicado para atividades em empresas



O sistema de pára-raios da empresa do ramo petroquímico teve a sua instalação prevista em período onde também foi preparada e conduzida uma parada geral do processo de produção de 15 dias para manutenção e ampliação. As interferências nos serviços em instalações industriais com essas características são constantes e variadas.

"Identifique temas relevantes tomando como referência características estáticas (estruturas), dinâmicas (procedimentos) e de controle da empresa e de seus processos - Figura 1"

A equipe de eletricistas alocada nos trabalhos de instalação de pára-raios contou com número variável de participantes entre 8 e 15. A aplicação de gestão de conhecimento, iniciou-se com a seleção e a criação de espaço, no canteiro da empresa, para a realização de reuniões coletivas do grupo. No final de cada dia, um encontro semelhante era realizado para contabilizar os serviços realizados, discutir experiências e eventuais alterações no planejamento de serviços apresentado à empresa contratante.

Com a concordância dos eletricistas, foram fixadas na parede do canteiro, plantas de projeto relevantes à execução dos serviços e grandes folhas de papel em branco (mapas de conhecimento), em formato A1, onde foram indicados temas relevantes relacionados com a organização, procedimentos e controles da empresa contratante e dos serviços a serem executados.


Figura 2 - Mapa de conhecimento1 - Aspectos de segurança elaborados, com a equipe de eletricistas, em serviço para a instalação de sistema de proteção externa contra descargas atmosféricas em cliente do ramo petroquímico.



A explicação básica sobre mapas conceituais (mapas mentais) pode ser obtida em Novak e Gowin [1984, capítulo 2]. Trata-se de técnica gráfica para anotar e apresentar conceitos e seus relacionamentos, conforme percebidos por pessoas (individualmente ou em grupo), em relação a um determinado tópico, área de conhecimento, processo, situação, ...

Os mapas de conhecimento funcionaram como uma espécie de contrato do grupo de trabalho. Ajudaram a desenvolver uma linguagem comum e a resolver diferenças entre os participantes. Quando necessário, pela manhã, no final da tarde ou em situações especiais em que foi necessário interromper os serviços, os mapas eram atualizados e até substituídos com a concordância do grupo. Idéias, sugestões e resultados esperados foram registrados e acompanhados. Os mapas facilitaram o preenchimento de documentos exigidos pelo cliente como planejamento de serviços, permissões e relatórios. Foram registrados também atividades importantes, exigidas pelo cliente, para a formação da competência do grupo como treinamentos e provas de habilitação em normas de operação, manutenção e segurança.

Os mapas foram substituídos com bastante freqüência no início. O aprofundamento do conhecimento pessoal de cada um dos componentes do grupo e a melhor compreensão por todos os participantes dos aspectos complexos e desafiantes relacionados com a empresa contratante e os serviços ajudaram a refinar os mapas que passaram a ser substituídos com menor freqüência.

A partir de um certo momento, os mapas não sofreram mais modificações importantes e os serviços foram conduzidos como previamente combinado com os eletricistas até a sua conclusão. A configuração final contou com dois mapas fixados lado a lado no canteiro: um que tratava de aspectos relacionados com a segurança (Figura 2) e outro que tratava de aspectos relacionados com os prazos estabelecidos para a conclusão dos serviços.

O processo de elaboração dos mapas colaborou fundamentalmente para a compreensão do conteúdo e das características do conhecimento necessário à execução dos serviços.



1 Mapas de conhecimento, neste texto, estão sendo indicados sem as relações.


Fontes: www.mbis.pucsp.br/GETGC/Publicacoes/InstelCT.doc

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